quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Supercola fecha feridas oculares até a realização de cirurgias reparadoras

Segundo especialistas, o tratamento temporário poderá evitar danos mais graves, como a perda da visão


Corriqueiros, acidentes de carro, domésticos e de trabalho podem causar lesões no globo ocular. Essas feridas precisam ser tratadas imediatamente para evitar a queda de pressão ocular e danos ainda mais graves, como a perda total da visão. Mas nem sempre a cirurgia acontece de forma instantânea. Para exterminar o risco de possíveis complicações durante a espera pelo procedimento, pesquisadores dos Estados Unidos e do Brasil desenvolveram uma solução temporária: uma espécie de supercola que consegue fechar as feridas oculares. Os testes iniciais com o material tiveram resultados positivos e foram publicados na última edição da revista Science Translational Medicine.

Ajudar soldados feridos foi o que motivou os criadores do selante. “O Exército dos Estados Unidos tem se interessado em desenvolver novas abordagens para o tratamento do trauma ocular, particularmente em ambientes austeros, onde não existe acesso a instalações hospitalares e cirúrgicas completas”, conta ao Correio John Jack Whalen, professor-assistente de pesquisa em oftalmologia na Universidade do Sul da Califórnia (USC) e um dos autores do estudo.

O polímero tem como base o PNIPAM — um líquido transparente que muda de forma conforme a temperatura. Os pesquisadores criaram uma substância termossensível que tem forma de gel em baixa temperatura e se solidifica ao entrar em contato com a temperatura corporal. “Desenvolvemos uma seringa que permite que o selante seja rapidamente implantado nos olhos, sem a necessidade de microscópios ou instrumentação microcirúrgica”, detalha Whalen. “Pegamos essa substância gelada e em forma de gel com essa seringa e, em contato com o corpo, ela se solidifica e fecha a ferida, evitando, assim, que a pressão caia”, completa Paulo Falabella, também autor do estudo, conduzido por ele na USC e na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Agora, ele faz um doutorado na universidade brasileira.

Em modelos de coelhos e porcos com ferimentos de globo aberto — quando há violação das paredes oculares —, o selante restaurou a pressão intraocular, com efeito semelhante ao de uma supercola, mas sem toxicidade e com a durabilidade de um mês. “Nos testes com animais, conseguimos uma pressão ocular cinco vezes maior que em uma pessoa normal, evitando que ela caia e que ocorram danos mais graves, como a cegueira. Isso mostra a segurança do material ao longo tempo”, ressalta Falabella.

Além da durabilidade, a simplicidade no uso do material chama a atenção. “O selante pode ser implantado em menos de 5 minutos, geralmente entre 2 e 3 minutos. Ele é fácil de usar”, frisa Whalen. “Nossa intenção é gerar um processo rápido, para ser feito no primeiro atendimento. Algo que o profissional da emergência possa realizar enquanto o paciente espera até ter acesso a um cirurgião. Fizemos até um workshop com especialistas da área oftalmológica para avaliar essa aplicação, o que foi bastante positivo”, complementa Falabella.

Necessidade
Para Marcos Ávila, médico oftalmologista do CBV Hospital de Olhos, em Brasília, e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), o selante ocular poderá ajudar a resolver complicações corriqueiras. “É um problema que enfrentamos muito no dia a dia, principalmente em acidentes de trabalho, em que o paciente chega horas depois de a lesão ter ocorrido e a pressão ocular já está baixa. Tem casos em que a pessoa almoçou ou lanchou antes do procedimento e, por causa disso, a anestesia precisa ser postergada, o que prejudica bastante porque, quanto mais tempo a ferida fica aberta, menores são as chances de eficácia da cirurgia”, detalha o especialista, que não participou do estudo.

Segundo o oftalmologista, os médicos já usam uma cola, o cianocrilato, mas ele não apresenta as mesmas vantagens do novo material. “Um selante com essas qualidades, com essa durabilidade, ainda não temos. Acredito até que essa seja apenas a ponta do iceberg. Quem sabe essa nova tecnologia possa ser utilizada em outros processos como uma forma de substituir as suturas em transplantes de córnea, por exemplo”, acredita Ávila.

Apesar de otimista, o médico acredita que testes futuros são necessários antes que o selante chegue à clínica. “Como foram feitos experimentos apenas com animais, temos que ver a segurança (do uso) em humanos, saber também da toxicidade, para certificar que não trará problemas. Outra questão é o custo. Se for alto, pode ser uma barreira”, opina.

O próximo passo dos criadores será o teste em humanos, a fim de testar a validade, a aplicabilidade e a segurança da supercola. “Atualmente, estamos construindo uma pequena linha de fabricação para produzir produtos clínicos e começar a obter as aprovações da Food and Drug Administration (FDA), a agência reguladora americana, para, dessa forma, iniciar estudos preliminares de segurança em humanos. Esperamos começar os primeiros ensaios clínicos de segurança em meados de 2019”, adianta Whalen.

Segundo Falabella, a próxima etapa também avaliará o custo da nova ferramenta. “Ainda é cedo para falar sobre valores, mas podemos adiantar que os materiais usados nessa pesquisa são muito utilizados na área médica, o que nos deixa otimistas com relação a um custo não muito alto do produto final”, ressalta o cientista brasileiro.

por Vilhena Soares
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