quinta-feira, 23 de março de 2017

Alzheimer: gordura no cérebro pode estar relacionada à doença

Em outra pesquisa, cientistas criariam um teste capaz de calcular e prever a probabilidade (em anos), de uma pessoa desenvolver Alzheimer

O novo estudo identificou 6 ácidos graxos insaturados associados ao Alzheimer: ácido docosa-hexaenoico, ácido linoleico, ácido araquidônico, ácido linolênico, ácido eicosapentaenóico e ácido oleico. (iStock/Getty Images)

Embora as causas do Alzheimer ainda sejam desconhecidas, a cada dia os cientistas descobrem mais fatores genéticos, ambientais e de estilo de vida associados à doença. A mais recente revelação nesse campo sugere que a presença de gordura insaturada no cérebro está associada à demência. Uma pesquisa publicada na terça-feira no periódico científico PLOS Medicine, sugere que seis tipos de ácidos graxos insaturados encontrados em duas áreas cerebrais (giro frontal médio e giro temporal inferior) estão associados ao Alzheimer.

“Este trabalho sugere que a desregulação do metabolismo pela gordura insaturada desempenha um papel na condução do Alzheimer e estes resultados fornecem mais evidências para a base metabólica da patogênese”, explicou Cristina Legido-Quigley, uma das líderes do estudo

Uma nova análise
Pesquisadores da Universidade King’s College de Londres, no Reino Unido, e do Instituto Nacional de Envelhecimento, nos Estados Unidos, analisaram como os compostos orgânicos gerados por reações do metabolismo dos ácidos graxos insaturados no cérebro de idosos saudáveis se comportavam e afetavam as suas habilidades cognitivas. Os dados de cada participante foram avaliados antes e depois de seus óbitos. Durante as autópsias, o tecido cerebral foi testado para possíveis neuropatologias, como Alzheimer. Comparativamente, também foram examinados os níveis dos compostos orgânicos em uma área do cérebro que normalmente não é afetada pela patologia – o cerebelo.

Os participantes foram divididos em três grupos: 14 tinham cérebros saudáveis, 15 tinham um acúmulo patológico de proteína tau abundante no sistema neurológico ou um acúmulo de placas formadas pela proteína beta-amiloide, que podem levar a doenças neurodegenerativas como Alzheimer e Parkinson, mas que não desenvolveram problemas de memória, e um grupo final de 14 participantes que já tinham a demência.

Os resultados mostraram que seis ácidos graxos insaturados encontrados no giro frontal médio e giro temporal inferior do cérebro, regiões comumente associadas ao Alzheimer, estavam relacionadas à doença: ácido docosa-hexaenoico, ácido linoleico, ácido araquidônico, ácido linolênico, ácido eicosapentaenóico e ácido oleico.

Os ácidos graxos são nutrientes essenciais que fornecem energia ao corpo humano. As gorduras são feitas de ácidos graxos, que podem ser saturados ou insaturados. As saturadas podem elevar os níveis do colesterol ruim, enquanto os insaturados podem diminuí-lo.

Apesar dos resultados, como esse foi apenas um estudo observacional, não é possível explicar a causalidade nem estabelecer se a desregulação dos níveis de gorduras insaturadas causa o Alzheimer ou o contrário.
Com que idade a doença pode aparecer?

Em outra pesquisa, realizada na Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, cientistas criariam um teste, baseado em 31 marcadores genéticos capaz de calcular e prever em anos a probabilidade de um indivíduo desenvolver Alzheimer. Segundo o estudo, uma pontuação elevada no teste pode prever um diagnóstico muitos anos antes do que aqueles com um perfil genético de baixo risco.

O teste de pontuação de risco poligênico, como é chamado, foi desenvolvido usando dados genéticos de mais de 70.000 indivíduos, incluindo pacientes com doença de Alzheimer e idosos saudáveis. A condição já era conhecida pela sua hereditariedade, cerca de um quarto dos afetados tem a doença no histórico familiar, e os cientistas mostraram que isso é, em parte, explicado por um gene chamado ApoE. No entanto, o recente estudo mostra que há milhares de variações genéticas, além do ApoE, que podem indicar riscos.

Os pesquisadores identificaram pela primeira vez cerca de 2.000 diferenças de polimorfismo de nucleotídeo único (SNP), a variação de “letras” na sequência de DNA no código genético. Depois de classificá-los por influência, desenvolveram o teste baseado em 31 desses marcadores. O teste foi, então, utilizado para prever com precisão o risco de um indivíduo desenvolver a doença.

Em pessoas com alto risco do gene ApoE, aqueles classificados entre os 10% com mais alto risco, no novo teste, tiveram Alzheimer em uma idade média de 84 anos, em comparação com 95 anos para aqueles classificados na porcentagem de menor risco. “Prevenir o desenvolvimento dos sintomas é o santo graal da pesquisa de Alzheimer, mas para ter sucesso precisamos antes de métodos precisos para prever quem é mais provável de desenvolver a condição. Mas é preciso testá-lo em populações fora dos Estados Unidos”, explicou James Pickett, coordenador da pesquisa.

Como evitar
A Alzheimer’s Association, ONG norte-americana de apoio e pesquisa, estima que a cada 66 segundos uma pessoa desenvolve a doença nos Estados Unidos e que um em cada três idosos é afetado. A mortalidade relacionada ao Alzheimer aumentou em até 89% desde de ano de 2000, mas as causas ainda não são claras.

Para Rosa Sancho, chefe de pesquisa da Alzheimer’s Research, no Reino Unido, embora a composição genética possa influenciar as chances de desenvolver a doença, uma dieta saudável combinada à prática de atividades físicas e mentais também podem diminuir o risco. “A genética é apenas parte da história, sabemos que o estilo de vida também influencia”, disse. “A melhor evidência aponta para hábitos que podemos adotar para ajudar a reduzir o risco. O que é bom para o coração também é bom para o cérebro.”

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